“Não se faz nada hoje sem olhar para o passado”, diz Vicente Goulart, pré-candidato a presidente da República, durante evento na Câmara
“Não se faz nada no dia de hoje sem olhar para o passado”. Foi o que destacou João Vicente Goulart, pré-candidato a presidente da República pelo Partido Pátria Livre (PPL), na manhã desta segunda-feira (19) no plenário da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP). Comparando os fatos dos golpes de 1964 e de 2016, Vicente Goulart defende um projeto nacionalista e contrário às privatizações. “Defendemos o cancelamento do entreguismo do país e um dos nossos projetos é o de retomar os direitos trabalhistas (…) Estamos contra esta reforma trabalhista e pregamos a sua revogação”, destacou.
Ele também critica o discurso que defende a meritocracia pelos pensamentos mais neoliberais. “Meritocracia é muito bom no quartel, quando é para a subida de patente; mas a disputa de uma vaga na universidade entre um morador da favela e um habitante do Bairro do Leblon, no rio de Janeiro, só funciona se tivermos oportunidades iguais para todos”, completou Vicente Goulart, primeiro presidenciável a participar do ciclo 'Diálogos da Democracia: ouvindo os presidenciáveis', promovido pela mesa diretora da CMJP. O tema da sua palestra foi ''O Momento Político, Gestão Pública e as Perspectivas para o Brasil'.
O palestrante é filho do ex-presidente João Goulart, o Jango, deposto pelo golpe civil-militar de 1º de abril de 1964 – ato inicial da instauração de uma ditadura militar que “governou” o Brasil durante 21 anos. Atualmente com 60 anos, ele viveu no exílio no Uruguai com seu pai quando era criança. Hoje filiado ao PPL, já foi deputado estadual no Rio Grande do Sul. Seu pai era gaúcho de São Borja (RS) e morreu na Argentina, em 1976.
Presidida pelo vereador Lucas de Brito (Livres), a mesa diretora do evento foi composta, além do presidenciável, pelo vereador Milanez Neto (PTB); por Luciano Breno (vereador de Campina Grande pelo PPL), o sindicalista Francisco de Assis Pereira (o Chico do Sintram – Sindicato dos Trabalhadores Municipais de João Pessoa – presidente estadual do PPL na Paraíba); e Regeildo Costa (presidente do PPL em João Pessoa).
“É um ciclo de debate importante para a cidade de João Pessoa e para a Paraíba. Estamos num ano de uma eleição diferente e a mesa diretora e os demais vereadores da Casa tiveram esta iniciativa de convidar todos os pré-candidatos a presidente para se exporem à sociedade pessoense. Estamos dando a oportunidade para que a nossa cidade conheça o projeto de cada candidato”, comemorou o presidente da CMJP, vereador Marcos Vinícius (PSDB), que pouco antes do evento recebeu Vicente Goulart em seu gabinete.
Para o 1°-vice-residente da Casa, vereador Lucas de Brito, o ciclo de debates é reflexo da maturidade democrática da Câmara e da sociedade pessoense. “Aproximar o pessoense e os paraibanos ao pensamento dos presidenciáveis é o nosso objetivo, ressaltando a qualidade do voto. Precisamos de um voto consciente, com conhecimento, com os eleitores conhecendo as propostas. É nisso que a Câmara quer apostar. E iniciamos o ciclo com alguém que tem muito o que falar do passado, pensamento no futuro”, avaliou o vereador.
Atualidade e passado
João Vicente Goulart iniciou sua palestra comparando a atualidade com o processo político de 1964. “Podem pensar que são momentos muito diferentes. Mas os motivos do Brasil de hoje são as mesmas de 54 anos atrás. Os autores dos golpes são os mesmos, o de 1964 e o de hoje”, ressaltou Goulart, lembrando que o Brasil de 1964, no governo do seu pai, discutia culturalmente o seu destino naquele momento, para evoluir e conquistar a sua independência do capital internacional. “Estava em desenvolvimento um projeto de nação. Eram jovens como Waldir Pires, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Celso Furtado, Darci Brasil... Pensando e mudando o país. Por isso aconteceu o golpe”.
Para o presidenciável do PPL, hoje o Brasil ainda discute como sair dessa dependência do capital internacional. “Precisávamos das reformas de base. A reforma agrária foi atacada sistematicamente. Foi chamada de reforma comunista. Foram criadas as diretrizes para acabar com o analfabetismo. Jango queria a regulamentação do capital das multinacionais que estavam no país, em que parcela dos lucros deveriam ser investidos no país”.
Nos dias atuais, Vicente Goulart lembra “as entrega da Embratel pelo governo de Fernando Henrique cardos (PSDB). “Hoje, no governo Temer (MDB), querem entregar quatro teles”. Perguntado qual seria o maior defeito do atual governo, ele respondeu de pronto: “Ser ilegítimo”. Em seu discurso, ele defende a reforma tributária para taxar o grande capital “e não só o contracheque do trabalhador”. E destacou ainda: “Tínhamos a reforma bancária em 1964 defendida por Jango, quando a distribuição do crédito não chegava às pequenas e médias empresas. Hoje a riqueza está nas mãos de quatro bancos”.
Para finalizar, Vicente Goulart garantiu: “Os agentes de hoje são os mesmos do Golpe de 64. Hoje temos um Congresso altamente suspeito como tivemos em 1964. Temos hoje a Fiesp que comprou generais e fez a Marcha da Família em 64; e hoje trouxe o pato amarelo para iludir os brasileiros”. E completou: “Hoje vivemos uma crise política muito grande, com discurso de ódio na internet”, lembrando que tem até candidato nazifascista.
No final, o convidado recebeu da mesa diretora da CMJP o diploma de participação no ciclo 'Diálogos da Democracia: ouvindo os presidenciáveis'. No dia 27 de março, também no plenário da CMJP, às 10h, será a vez do presidenciável João Amoêdo, do Partido Novo (PN).