Câmara debate fechamento de agências bancárias do BB

por Haryson Alves — publicado 04/12/2016 22h00, última modificação 08/07/2019 16h16
Colaboradores: Fotos Olenildo Nascimento
Estiveram em questão o papel social dos bancos públicos, o encerramento de agências que dão lucro e o prejuízo à classe trabalhadora

A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) debateu o fechamento de agências do Banco do Brasil (BB). Ao todo, cinco unidades serão encerradas na Paraíba – quatro na Capital e uma em Campina Grande – e 11 transformadas em postos de atendimento. A sessão especial, de autoria do vereador Chico do Sindicato (PT do B), aconteceu na tarde desta segunda-feira (5). O evento foi presidido pela vereadora Sandra Marrocos (PSB) e secretariado por Bruno Farias (PPS).

“Não são só os trabalhadores oficiais do BB que perdem o emprego, mas também aqueles de empresas terceirizadas que prestam serviços nas unidades. Não temos a menor dúvida de que a iniciativa é uma preparação para privatizar o BB”, avaliou Sandra Marrocos.

Vereadora Sandra Marrocos acredita que encerramento de agências bancárias são precedente para a terceirização de serviços públicos no País.

“A perspectiva é de fechar mais de 400 agências do BB em todo o Brasil. Uma política mesquinha que não enxerga o papel desempenhado pelo banco, que é o de investir no desenvolvimento e progresso da nação. Ano passado, o lucro do BB foi superior a R$ 14 bilhões. Não é possível que a instituição esteja numa situação dessas”, opinou Bruno Farias.

Mesa discute a retirada do compromisso social dos bancos públicos

De acordo com o presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba, Marcos Henriques, o BB deve servir à sociedade, com crédito qualificado, atendendo aos micro e pequenos empresários, os agricultores, porém, hoje, percebe-se o emprego de uma política defasada na instituição.

“O Governo Federal quer provar uma coisa: que o público é ruim e o privado é bom. É uma medida perversa fechar a agência de uma cidade e a transformar num posto, que será responsabilidade da agência do município vizinho. Além disso, a realidade é de salários achatados e déficit de mais de 20 mil trabalhadores em bancos na Paraíba. Em 2015 foi feito um concurso e nenhum funcionário foi chamado. Não entendo como num ano de crise, em vez de contribuir com a economia, demitem-se funcionários”, avaliou Marcos Henriques.

O funcionário do BB, Francisco de Assis (Chicão) informou que o BB tem hoje uma taxa de juro mais alta que a dos bancos privados.

A esse respeito, o funcionário do BB e diretor do Sindicato dos Bancários da Paraíba, Francisco de Assis Chaves, conhecido como Chicão, salientou que bancos privados têm interesse em ir para as regiões que dão mais lucro. Ele explicou que, no caso dos públicos, há também uma responsabilidade social: “se existe uma época em que o juro sobe bastante, os bancos públicos podem interferir na taxa para que a população não sofra muito”, comentou.

No entanto, Chicão adiantou que o BB hoje está com uma taxa de juro mais alta que a dos bancos privados. “Qual a justificativa diante de um Governo que tenta reativar a economia? O crédito é um alavancador da economia e o Governo opta por fechar agências. De 2002 a 2015, o BB esteve com desempenho satisfatório do ponto de vista econômico. O Governo está retraindo o papel social de um agente financeiro e parece-me que suas ações são apenas para ajudar os bancos privados. São medidas que favorecem pequenos grupos empresariais que não têm interesse no desenvolvimento econômico do País”, acrescentou Chicão.

Presidente da CUT diz que fechamento pode atingir Caixa e Correios

O presidente da Central única dos Trabalhadores (CUT), Paulo Marcelo, enfatizou que assiste a um dos maiores ataques à classe trabalhadora no Brasil. “E não é só aos bancários. Daqui a pouco, será o fechamento da Caixa Econômica Federal, dos Correios, a privatização da Saúde e das universidades. O desafio dos trabalhadores e forças sindicais brasileiras é maior. O que se quer com as medidas desse Governo é diminuir o Estado”, apontou.

Segundo Paulo Marcelo, é contraditória a ideia de um banco que dá lucro ser deficitário. “Um banco que surgiu para atender questões da agricultura, habitação, crédito, entre outras questões desenvolvimentistas do Brasil, não devia passar por isso. A sociedade precisa ter consciência do que está acontecendo realmente. Em meses de um Governo Federal já se faz esse estrago, imagine por mais anos? O prejuízo pode ser maior com essa administração do País”, considerou.

Para o presidente do Sindicato dos Bancários de CG, Rostand Lucena, é contraditória a ideia de um banco que dá lucro ser deficitário.

Para o presidente do Sindicato dos Bancários de Campina Grande e Região, Rostand Lucena, essa reestruturação visa a devolver ao mercado privado o que havia perdido nos últimos anos para os bancos públicos. Ele frisou que, nos momentos de crise, os bancos públicos foram o instrumento federal utilizado para que a crise não tivesse a mesma dimensão que teve em outros países.

“Em 2008, na grande crise internacional, em que os bancos privados cortaram o crédito, o BB e a Caixa asseguraram a abertura de crédito. Em outros momentos, também foram utilizados para reduzir o juro. O que houve, num grande mercado que era dominado pelos privados? Os bancos públicos tiveram uma maior fatia de participação. Parece-me que este tem sido o maior preço que o Governo Federal está fazendo a gente pagar ao segmento privado”, argumentou Rostand Lucena.

Reflexos da medida na Paraíba

O Brasil terá 409 agências do BB encerradas, além de 379 que serão transformadas em postos de atendimento. Após a reorganização, a Paraíba ficará com 119 unidades do BB, entre 80 agências e 39 postos de atendimento. Na Capital, as unidades afetadas com o encerramento serão as do Espaço Cultural, Shopping Sul, Cabo Branco e Mag Shopping. As agências da Rua Treze de Maio e do Centro Administrativo serão pontos de atendimento. Dos 1.390 funcionários do BB na Paraíba, pelo menos 206 fazem parte do grupo potencial que pode aderir ao Plano Extraordinário de Aposentadoria Voluntária, divulgado pela entidade, dia 21, no mês passado. A essa conta somam-se também as dezenas de vigilantes e auxiliares de serviços gerais que prestam serviços ao BB.