CMJP debate os transtornos sociais da doença celíaca

por Damião Rodrigues — publicado 27/04/2016 21h00, última modificação 09/07/2019 15h12
Entre outras questões, também foram discutidas as formas adequadas de armazenamento e venda de produtos livres de glúten no Município de João Pessoa.

Na tarde desta quinta-feira (28), foi realizada no Plenário da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) uma audiência pública que debateu a doença celíaca, transtorno autoimune que impossibilita a ingestão de alimentos com glúten, proteína presente no trigo, centeio, cevada, malte, entre outros gêneros. Durante o evento, proposto pelo vereador Fuba (PT), também foram discutidas as formas adequadas de armazenamento e venda de produtos livres de glúten no Município de João Pessoa.

Para o vereador Fuba, os transtornos causados pela intolerância ao glúten podem ser enquadrados entre as doenças endêmicas da atualidade e, por isso, é necessário um trabalho de conscientização da sociedade sobre o tema. O parlamentar anunciou que elabora um Projeto de Lei (PL) para garantir as formas adequadas de armazenamento e venda de produtos livres de glúten no Município de João Pessoa.

“Os alimentos especiais em prateleiras comuns, junto com outros gêneros alimentícios, podem sofrer contaminação de forma cruzada, que ocorre quando um alimento livre de determinado nutriente está em contato com outro produzido com o ingrediente contraindicado”, informou Fuba, justificando a necessidade de normatizar a estocagem, armazenamento e a distribuição desses gêneros.

O vereador Lucas de Brito (PSL), que secretariou os trabalhos, destacou a sintonia entre os parlamentares em traçarem ações voltadas a temas correlatos. Ele comentou sobre seu PL que obriga os restaurantes, padarias, sorveterias e demais estabelecimentos privados similares, que comercializam alimentos no âmbito do município de João Pessoa, a informar sobre a presença ou inexistência de glúten, como medida preventiva e de controle da doença celíaca.

“O cidadão tem direito à informação sobre o alimento que lhe está sendo fornecido. No caso dos celíacos, esta é uma questão de boa saúde e sobrevivência. Vamos lutar pela aprovação destas matérias. Quando dois vereadores juntam forças por uma causa nobre a tendência é ter mais força”, defendeu Lucas.

O que é a doença celíaca

A médica gastro pediátrica, Ana Carla Delgado, fez uma breve explanação sobre a doença celíaca, destacando as dificuldades na realização do diagnóstico e a transformação na vida de quem é diagnosticado com a enfermidade, já que a retirada do glúten da dieta alimentar é o único tratamento.

“Os celíacos são indivíduos geneticamente predispostos a doença. Existe uma gama de sintomas que podem ser relacionados a enfermidade, tais como diarreia/prisão de ventre, emagrecimento/ obesidade, anemia, dor abdominal, osteoporose/osteopenia, vômitos, falta de apetite e aftas de repetição. O tratamento é relativamente simples: a retirada do glúten da alimentação. Embora, por uma questão cultural, esta retirada não seja fácil. O celíaco passa a ter uma nova vida com novos hábitos e desafios”, discorreu.

Ana Carla também enfatizou que a questão do diagnóstico é muito séria, e alertou que existe uma verba do Governo Federal destinada a realização dos exames de diagnóstico da doença que não está sendo utilizada para este fim. De acordo com ela, os exames estão sendo pagos pelos pacientes. A médica ainda enfatizou a necessidade do cuidado para evitar a contaminação cruzada, que seria a utilização de utensílios ou espaços em que foram feitos alimentos com glúten. Segundo ela, os problemas causados pela contaminação cruzada são os mesmos causados ao se ingerir um alimento que contém glúten em sua composição.

A nutricionista Luíza Teodoro ratificou que o tratamento é exclusivamente dietético. “É uma mudança de hábito muito grande e importante. Precisamos de conscientização para se evitar a contaminação cruzada. São atitudes simples e sem custos, como por exemplo, a reorganização de prateleiras. Que esta audiência seja o primeiro passo de uma longa jornada”, ensejou.

Dificuldades encontradas pelos celíacos

A coordenadora do grupo “Os Celíacos na Paraíba”, Camila Marques Lins, falou sobre as dificuldades vivenciadas ao descobrir que seu filho era celíaco. “Em 2008 não se sabia nada sobre esta doença. Meu filho tinha dois anos, na época, e eu não queria que ele se sentisse diferente. Comecei a pesquisar sobre o assunto. Aprendi a fazer salgadinhos e tortas sem glúten para que ele pudesse levar nas festas, das quais muitas vezes não era convidado, porque era considerado doente. Sempre me senti sozinha, mas, ao encontrar outras mães de celíacos, sugeri a criação do grupo, e agora pretendemos criar uma Associação para podermos atuar de forma mais incisiva na inserção social dos celíacos”, defendeu.

A advogada Luciana Menendez relatou sua experiência como celíaca, frisando que a alimentação é difícil e o custo é muito alto. Para ela, a bandeira mais forte do grupo é a questão social, com ênfase na inserção do celíaco, e a luta pelo respeito aos direitos individuais de cidadão. “Agradecemos bastante porque esta Casa está de olhos bem abertos à nossa causa e propõe ações efetivas, que poderão nos garantir a cidadania enquanto celíacos”, asseverou.

Durante a audiência, outras mães e pais falaram sobre as dificuldades no cotidiano dos seus filhos. Todos enfatizaram a árdua luta em terem seus direitos respeitados enquanto cidadãos, seja devido à falta de informação sobre a composição dos alimentos, ou pelo alto custo destes sem glúten.

Compromisso

Ao final das discussões, os vereadores Fuba e Lucas de Brito reafirmaram o compromisso com a causa, garantindo a elaboração de outras matérias que possam tornar a vida dos celíacos mais fácil dentro da sociedade. Fuba anunciou que, em conjunto com Lucas de Brito, vai apresentar um requerimento solicitando que a Gestão Municipal utilize a verba federal destinada para os exames de detecção da doença celíaca para o fim que lhe é especificado.