Documentos históricos encontrados na CMJP já estão em processo de higienização
Os documentos antigos, encontrados no arquivo da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), já se encontram na Fundação Casa de José Américo para o processo de higienização. São documentos que datam de diversos períodos, como o Brasil-Colônia, com alguns textos de 1814 e 1815; do Império, com outro tanto de 1824 até 1828, e atas que cobrem a vida do Legislativo Municipal já no século 19, entre os anos de 1910 a 1912.
“São documentos importantes para historiadores e pesquisadores que tenham, como foco, nossa cidade de João Pessoa. O material relata assuntos e documentos da vida cotidiana da capital e vai dar oportunidade de entender melhor a trajetória, tanto de João Pessoa, como de cidades próximas, afinal entre os achados até um livro de atas da Vila do Conde, atualmente cidade do Conde”, comentou o presidente da Câmara, vereador Marcos Vinícius (PSDB).
“É uma parceria que entendemos ser de muita importância para a própria Fundação. Temos uma equipe técnica que sabe muito bem trabalhar a higienização de documentos. Porém não temos como realizar a restauração porque é um processo técnico muito mais complexo. Não temos laboratório para esta etapa que poderá ser realizada pelas Universidades Estadual e Federal da Paraíba”, esclareceu Lúcia Guerra, diretora do Departamento de Documentação e Arquivo da Fundação Casa José Américo.
Desafios da administração pública de ontem e hoje
Para o professor-doutor em História Ângelo Pessoa, responsável pela restauração dos documentos, é importante contextualizar o papel da Câmara de Vereadores no século 19, época que remete a alguns dos documentos encontrados. “Hoje nós temos a Prefeitura, a Polícia e o Poder Judiciário. No Brasil Colônia, a Câmara era mais ou menos a reunião de tudo isso. Era um pouco o Executivo, uma espécie de Judiciário de primeira instância e tinha junto dela a delegacia. Então nesses documentos, aparecem queixas de falta d’água, de médicos e professores na cidade, que acabam sendo assuntos que têm uma permanência histórica muito grande. São desafios da Administração Pública de ontem e de hoje”, comenta o professor.
Ainda de acordo com Ângelo Pessoa, esse material supunha-se ter se perdido, com o fechamento das Câmaras, por Getúlio Vargas, em 1937. “Esses documentos ficaram trancados e esquecidos em algum lugar sofrendo com chuva, traça, cupim e barata. Boa parte, infelizmente, deve ter se perdido. Eis que a equipe do Arquivo da Secretaria do Legislativo da CMJP, em seu trabalho cotidiano começou a localizar e reunir algumas dessas peças”, comenta.
O professor afirma que essa descoberta coincidiu com uma pesquisa que estava fazendo sobre documentos antigos da cidade. “Já havia pesquisado no Espaço Cultural, na Arquidiocese Paraibana e na Assembleia Legislativa e vim desanimado para Câmara, porque vi na página eletrônica que só havia documentação a partir de 1947, ano da reinstalação da Câmara. Aqui chegando, fui surpreendido com essa descoberta feita recentemente pelo pessoal da Casa. Imediatamente, comecei a ver esse tesouro”.
Restauração e digitalização
Sobre a restauração do material, o professor explica como vai acontecer todo o processo. Segundo ele, a primeira etapa é a higienização, conservação e restauro do material; e, seguida haverá a leitura para transcrição da linguagem antiga para uma mais contemporânea; por fim, a digitalização e o arquivo em fotografia. O processo deverá reunir a CMJP, a Casa José Américo e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
“Colocamos as instituições para conversarem sobre com cada uma poderia colaborar, no sentido de trabalharmos juntos. A Casa José Américo é uma instituição muito bem aparelhada para o trato de documentos. A UFPB tem uma equipe de pesquisadores e arquivistas. A ideia é que essas partes estabeleçam protocolos de trabalho para cooperação do ponto de vista geral e específico”, revelou Ângelo, que acredita que a CMJP poderá servir para produção de documentários e edição de livros sobre o próprio acervo, ou sobre a Câmara e a cidade.