Em contraponto ao 'Escola Sem Partido', tramita na Câmara da Capital o 'Escola Livre'

por Damião Rodrigues — publicado 25/11/2017 22h00, última modificação 18/07/2019 14h11
O Projeto de Lei (PL) 'Escola Livre', de autoria da vereadora Sandra Marrocos (PSB), pretende a livre manifestação de pensamento, o pluralismo de ideias e a ausência de censura ou repressão no âmbito das instituições de ensino da Capital paraibana

Em contraponto ao movimento 'Escola Sem Partido', tramita nas comissões permanentes da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) o Projeto de Lei (PL) que institui a 'Escola Livre' no Município de João Pessoa. Enquanto o 'Escola Sem Partido' pretende especificar os limites da atuação dos professores, impedindo que eles promovam suas crenças particulares em sala de aula, o 'Escola Livre', de autoria da vereadora Sandra Marrocos (PSB), pretende a livre manifestação de pensamento, o pluralismo de ideias e a ausência de censura ou repressão no âmbito das instituições de ensino da Capital paraibana.

“Esse projeto de lei nasce como resposta à pretensão autoritária de censurar, calar, perseguir e criminalizar a liberdade de expressão e pensamento nas escolas pessoenses. É, de certa forma, uma resposta àqueles que querem cercear o pensamento livre e o debate democrático no âmbito da educação”, justifica a vereadora.

Para Sandra Marrocos, a matéria visa a garantir o debate sem mordaças, a escuta respeitosa da opinião do outro, o respeito e a celebração da diversidade como valor democrático e a autonomia pedagógica das escolas, que devem formar cidadãos informados, críticos e com capacidade para pensar por si mesmos e conceber suas próprias opiniões e visões de mundo.

“É uma matéria que objetiva combater a discriminação, o preconceito e o discurso de ódio no âmbito da educação, garantindo o respeito pelas diferenças que nos enriquecem como sociedade e prevenindo todas as formas de violência, bullying e assédio escolar”, assevera a parlamentar.

De acordo com o documento, fica garantido no município de João Pessoa a livre manifestação do pensamento; a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar, ler, publicar e divulgar por todos os meios a cultura, o conhecimento, o pensamento, as artes e o saber, sem qualquer tipo de censura ou repressão.

O poder público usará os seus canais de comunicação destinado ao recebimento de reclamações relacionadas ao descumprimento desta lei, assegurando-se o anonimato. Fica assegurado, em todos os concursos públicos para provimento de cargo de professores da rede pública, o direito ao pleno debate, sem censura ou discriminação, de quaisquer matérias e assuntos.

Inspiração para o projeto

“Inspirados no projeto de lei municipal apresentado recentemente pela vereadora Sâmia Bomfim (PSol) na Câmara de São Paulo, elaboramos a presente proposta para o âmbito municipal de João Pessoa, garantindo direitos não apenas aos professores e professoras, como também aos alunos e alunas e seus responsáveis, parentais ou não, com o objetivo de democratizar a educação e promover a mais absoluta liberdade e o respeito irrestrito pelos direitos humanos”, revelou a vereadora.

Sandra Marrocos destaca que uma sociedade começa a ser democrática quando educa para a democracia desde o nível inicial até a pós-graduação. Uma escola autoritária produz uma sociedade com graves problemas de autoritarismo. A escola, numa sociedade democrática, precisa ser, ela também, democrática. “Deve educar de modo a despertar nos estudantes a curiosidade e o engajamento político saudável, sem qualquer tipo de doutrinação ou imposição das ideias de docentes e autoridades, colocando todas as opiniões em debate sem qualquer tipo de censura”, argui.

'Escola Sem Partido'

O 'Escola Sem Partido' engloba duas vertentes: o movimento 'Escola sem Partido', um grupo que diz representar pais e professores e afirma se preocupar “com o grau de contaminação político-ideológica das escolas brasileiras”; e os projetos de lei inspirados no movimento.

A maioria desses projetos segue o modelo do Projeto de Lei 193 de 2016, de autoria do senador Magno Malta (PR-ES), que pretendia especificar os limites da atuação dos professores, impedindo que eles promovam suas crenças particulares em sala de aula, incitem estudantes a participarem de protestos e denigram os alunos que pensem de forma distinta.

Embora no último dia 20 de novembro o senador Magno Malta tenha apresentado um requerimento para retirar de tramitação o seu projeto 'Escola Sem Partido', o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), designado relator do projeto, em entrevista à Rádio Senado, explica porque é contrário à aprovação da proposta. Escute o áudio aqui.

Segundo levantamento feito junto a Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional, até o fim de julho nove estados brasileiros, além do Distrito Federal, tinham pelo menos um projeto de lei com teor semelhante tramitando na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados e no Senado.