Exposição é tema de debate entre vereadores na Câmara Municipal de João Pessoa

por Paulo de Pádua — publicado 07/05/2018 21h00, última modificação 03/07/2019 10h16
Eliza Virgínia (PP) levou assunto para a tribuna, repudiando trabalho que envolve nudez e religião durante a sessão desta terça-feira (8)

A exposição coletiva, chamada de “Sui Generis”, que está na Usina Cultural da Energisa desde o dia 3 de maio, foi alvo de crítica durante a sessão desta terça-feira (8), entre os vereadores Carlão (PSDC) e Eliza Virgínia (PP). O tema também foi debatido pelos vereadores Thiago Lucena (PMN) e Raíssa Lacerda (PSD). Eliza é ligada a religião evangélica, enquanto que os outros três parlamentares seguem o catolicismo.

Na tribuna, a vereadora não escondia sua indignação ao afirmar que iria ingressar com uma ação criminal contra o artista que expôs um desenho envolvendo uma imagem de um corpo nu e a hóstia consagrada. “Existe um limite muito tênue entre liberdade de expressão e fazer um crime. O artista cometeu um crime. E ele tem que ser processado por tal crime contra nossa fé”, argumentou Eliza.

Ela citou, em seu pronunciamento, “o artigo 208 do Código Penal Brasileiro, que diz que escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso; poderá ser condenado a pena de um mês a um ano ou receber multa”.

Polêmica

A polêmica vem surgindo desde a semana passada, quando três artistas paraibanos começaram a expor alguns trabalhos na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa. De acordo com os autores, essa mostra coletiva traz técnicas e categorias de artes plásticas muito próximas, que resulta numa exposição com elementos em harmonia estética e conceitual, além de fazer homenagem ao desenho, uma vez que todas as obras foram produzidas em papel.

Ainda sem seu pronunciamento, Eliza Vírgina criticou a nota divulgada pela Energisa. Nela, a empresa que promove a exposição esclarece que se baseou no Guia Prático de Classificação de Indicativo para definir o limite de idade de quem poderia visitar o evento, indicado para maiores de 12 anos.

“É um absurdo que eles permitam ser livre para uma criança de 12 anos. Depois tirou as partes polêmicas e o readequou para crianças de mais de 18 anos. A Energisa não deveria seguir o guia, mas a sua consciência”, comentou. Eliza comparou o caso de João Pessoa com a exposição que ocorreu, há vários meses, no Santander Cultural, em Porto Alegre (RS).

Apartes

O vereador Carlão também ocupou a tribuna para falar sobre o mesmo assunto. Para ele, quando a fé e o intimo são atingidos, de forma tão direta, é preciso que alguém se manifeste. “Eu recebi na última sexta-feira várias mensagens e ligações a respeito de uma exposição que estava sendo apresentada na Usina Cultural. Esta arte estava lá, sem nenhuma faixa etária de idade”, relatou o parlamentar que, como Eliza, garantiu que irá representar os responsáveis junto ao Ministério Público. Carlão entende que houve crimes de vilipêndio e responsabilidade.

Nos apartes, os vereadores Thiago Lucena e Raíssa Lacerda fizeram duras críticas a exposição e ao autor da obra polêmica. “Liberdade de expressão somente para atingir a nossa religião?”, questionou Lucena. Ele repudiou que o Corpo de Cristo tenha sido usado como arte, sob o argumento de liberdade de expressão, e ainda considerou um absurdo que crianças de 12 anos tenham sido liberadas para frequentar o local.

Já Raíssa Lacerda disse que Eliza acertou em ter trazido para tribuna um tema tão importante como esse. A vereadora também criticou a Energisa por ter cedido o ambiente e falou que “a hóstia de Jesus Cristo não poderia ser desrespeitada de maneira alguma”.