Procuradora explica que controle interno e diálogo devem ser aliados no enfrentamento à corrupção

por Rebeca Neto — publicado 09/12/2021 15h38, última modificação 09/12/2021 15h38
Colaboradores: Foto: Juliana Santos
Sheyla Barreto compreende que, além da técnica, é preciso haver diálogo e horizontalidade nas relações

“Como gastamos os recursos públicos colocados em nossas mãos?” foi o questionamento levantado pela procuradora do Ministério Público de Contas da Paraíba, Sheyla Barreto, durante palestra nesta quinta-feira (9), no I Fórum Anticorrupção da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP).

A procuradora expôs que cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo, enquanto aproximadamente 30% dos alimentos são desperdiçados e 1,3 bilhão de toneladas são jogadas no lixo. “Por que a gente tem a percepção de que é ‘gastador’, ‘desperdiçador’, para alimentos e não tem para outros bens primários, como os recursos públicos, por exemplo? Está na hora de alinhar essa narrativa de combate à corrupção”, comentou.

Segundo ela, uma proposta de intervenção no enfrentamento à corrupção, o controle, a técnica e o diálogo devem ser aliados. A procuradora ressalvou, no entanto, que há ainda muita resistência quando se tratam de iniciativas de controle: “A narrativa cultural presente é que o controle é o bicho-papão de todo mundo, seja ele emocional ou da administração pública. Falar de controle, no Brasil, ainda é falar em uma palavrinha que causa medo. Não vejo no controle a redenção, não vejo na técnica a redenção, mas vejo no diálogo, na horizontalidade das relações, na escuta ativa, uma maneira de amadurecer, caminhar juntos e rever pontos que não dão certo”, acrescentou.

Sheyla Barreto ponderou que a técnica é apenas um dos instrumentos, mas que é necessário exercer empatia quanto aos “controlados”: “Muitas vezes, a gente peca por não conhecimento. Então, aquela máxima jurídica que diz que a ninguém é dado alegar o desconhecimento de atos normativos ou publicações no Diário Oficial, sobretudo para exercício de direitos com torpeza, tem que ser temperada. Vivendo numa sociedade com ‘terabytes’ de informação, é impossível”. Além disso, segundo ela, o administrador recebe pressão e cobrança pela representação de inúmeros grupos da sociedade com o controle externo, e entende que o controle interno o antepara, sendo, portanto, um parceiro na ação.

“É um convite para ponderarmos, temperarmos, um pouquinho essa história de acharmos que nós sabemos de tudo e de que a administração não erra”, concluiu.