Projeto de cidadania pessoense para deputado carioca Jair Bolsonaro divide opiniões na Câmara de João Pessoa

por Clarisse Oliveira — publicado 09/04/2018 21h00, última modificação 12/07/2019 11h11
Matéria foi lida em plenário nesta terça-feira (10) e foi tema de pronunciamentos na tribuna da Casa

A possível concessão do Título de Cidadão Pessoense para o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), de autoria do vereador Carlão (PSDC), dividiu opiniões na sessão desta terça-feira (10), da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP). Além da discussão no pequeno expediente, onde cada parlamentar tem direito a falar por até cinco minutos, o assunto foi tema de pronunciamento da vereadora Sandra Marrocos (PSB) e dos vereadores Marcos Henriques (PT) e do próprio Carlão.

A vereadora levantou o assunto ainda no pequeno expediente. “É um absurdo essa Casa conceder o Título de Cidadão Pessoense para Bolsonaro. Para isso, primeiro tem que se fazer algum serviço relevante para a cidade de João Pessoa. O que foi que esse rapaz fez de relevante? Ele fez um desserviço para a humanidade”, afirmou a vereadora citando declarações do parlamentar que caracterizou como machistas, racistas e homofóbicas.

Em seu pronunciamento, Sandra Marrocos continuou com o posicionamento contrário à honraria proposta. “Um ano atrás, ele (Bolsonaro) desrespeitou o povo indígena. Ele é misógeno quando diz que nós mulheres temos que ganhar menos que os homens por que engravidamos, fui mãe três vezes e a maternidade nunca me deixou maior nem menor do que os outros. Ele diz que precisamos nos defender com armas, quando temos que investir em políticas públicas de prevenção. Não darei esse título a esse cidadão que prega que bandido bom é bandido morto”, argumentou.

O vereador Humberto Pontes (Avante) citou o regimento da Casa em que diz que as honrarias são concedidas a quem comprovadamente tenha prestado relevantes serviços a João Pessoa e ao Estado. “Que serviço prestado ele tem à cidade? Esta Casa não aceita. Confio nos pares da CCJ que irão honrar o Regimento Interno. Mas se a CCJ entender como constitucional, que o Plenário rejeite o projeto”, enfatizou.

Para Leo Bezerra (PSB), não há obstrução para que o projeto passe na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ). “Quanto ao aspecto constitucional, não podemos fazer nada. Mas quanto ao mérito, me posiciono contra. Não conheço nenhuma obra, ação ou emenda que ele tenha trazido para a Paraíba”, afirmou.

Tibério Limeira (PSB) questionou a atuação do deputado até no Estado pelo qual é deputado, o Rio de Janeiro. “Em 26 anos de atuação parlamentar, qual o projeto releva nte que ele apresentou? Absolutamente nenhum. A aprovação desse projeto será muito ruim para a CMJP. Ele não merece nem mesmo para o estado que nasceu, porque não produziu nada nem para lá. Com todo respeito, faremos o debate democrático, mas encaminhamos pela rejeição ao título”, revelou.

“Protocolei o Título de Cidadão Pessoense ao deputado Bolsonaro pelo seu relevante trabalho feito pela nação. Quem faz pela nação, faz pela Paraíba e por João Pessoa. Ele trabalha contra a erotização de crianças e não foi envolvido em um grande mar de corrupção que assola Brasília e o Distrito Federal. Ele representa uma parcela da sociedade que luta contra a corrupção”, afirmou Carlão, defendendo a honraria proposta e criticando a cidadania concedida pela CMJP, há 20 anos e entregue em 2017, ao ex-presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, a quem chamou de condenado.

Carlão continuou defendendo sua proposta durante seu pronunciamento: “Apresentei por que entendo ser uma iniciativa louvável. Ele está resgatando uma nova política, trazendo uma política conservadora e de direita que aqui é taxada como misógena, homofóbica. Ele diz não ao aborto e sim à vida; diz para que tenhamos austeridade e força na segurança pública para que o empresário não seja assaltado nem nossas filhas abusadas”, ressaltou.

Para Thiago Lucena (PMN), a concessão de honrarias deve ser mais precisa e seguir o Regimento Interno. “A concessão de honrarias precisa deixar de ser discussão ideológica e passar a ser matemática”, acredita Thiago. Já o vereador João Almeida (Solidariedade), defende que todas as opiniões devem ser respeitadas. “Temos que respeitar o contraditório e a opinião de cada um aqui”, afirmou João Almeida destacando que foi a favor da concessão da cidadania para Lula, como é a favor da honraria para Bolsonaro.

Em pronunciamento, o vereador Marcos Henriques leu uma nota de repúdio do Conselho Municipal do PCdoB de João Pessoa contra a concessão. Por sua vez, o parlamentar elencou diversas ações do governo do ex-presidente Lula no Estado que o motivaram a entregar a cidadania pessoense em 2017.

“Algumas questões que motivaram Lula a receber o Título de Cidadão Pessoense foram mais de 60 mil famílias beneficiadas com o Bolsa Família na Paraíba; a construção de mais de 10 mil moradias em João Pessoa. O IFPB transformado em instituto de ensino superior, ofertando mais de seis mil vagas; a criação de mais de 12 mil vagas em creches e mais 12 mil vagas de trabalho formal na Capital. Foram 10 mil paraibanos que ultrapassaram a linha de pobreza e cerca de 15 mil alcançaram a classe média”, citou, defendendo o título concedido ao ex-presidente petista.

O vereador do PT criticou, ainda, a forma de combate à violência proposta pelo deputado. “Ele anda dizendo que aquelas pessoas de sandália e short merecem morrer. Mas em nenhum momento ele fala dos grandes traficantes, daquela caneta que libera grandes bandidos e dos traficantes que financiam campanhas. Temos a obrigação de combater a onda fascista que cresce no país”, declarou Marcos Henriques questionando o crescimento de 170% do patrimônio do deputado nos últimos anos e de recursos recebidos por ele de empresa investigada pela Polícia Federal.