Rei do Candomblé da PB recebe a mais alta honraria da CMJP
A luta pela liberdade religiosa e a atuação em ações filantrópicas renderam ao Rei do Candomblé da Paraíba, o babalorixá Pai Gilberto de Xangô Alafim, a outorga da Medalha Cidade de João Pessoa. O líder religioso foi agraciado com a mais alta honraria da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), em sessão solene, na tarde desta quinta-feira (10), em proposição do vereador Sérgio da SAC (SD). O evento aconteceu no Plenário Senador Humberto Lucena, sede da Casa Legislativa.
“Por 25 anos ele leva a bandeira da religião por onde passa, lutando pela liberdade religiosa. Temos a certeza de que a sociedade abre os olhos, cada vez mais, para o fato de que as religiões pregam o amor e o respeito ao próximo. Estou convicto de que estamos evoluindo cada vez mais no respeito aos credos e reforço que essa homenagem já deveria ser outorgada há muito tempo a esse líder de grande importância para João Pessoa. Precisamos valorizar as pessoas que nos representam”, discursou Sérgio da SAC, justificando a concessão da honraria.
Homenageado agradece
“Tudo que fiz foi para os orixás e para o engrandecimento do candomblé. Esta honra não é só minha, mas de todos que estiveram e estão comigo na luta pela liberdade religiosa. Estou bastante grato por tamanho reconhecimento”, pronunciou-se sucintamente, Pai Gilberto.
Depoimentos foram marcados por discurso de gratidão
A sessão solene foi marcada por depoimentos de vários cidadãos e os testemunhos de gratidão pelo amparo recebido pelo líder religioso foram recorrentes no discurso de todos que utilizaram a palavra.
“Ele tem a mesma importância para o candomblé no Estado assim como o Papa tem para o catolicismo, assim como Mãe Penha de Iemanjá tem para a umbanda aqui. Quantas vidas Pai Gilberto já não salvou por intermédio do candomblé? Quantos já foram resgatados da criminalidade ou auxiliados e melhoraram de vida? Quem recebe essa homenagem não é só Pai Gilberto, mas todas as religiões de culto afro-brasileiro”, salientou o diretor de comunicação da Federação dos Cultos Afro-brasileiros da Paraíba (Fecuabra-PB), Elialdo Silva.
Plenário ficou repleto de amigos, filhos e netos do líder religioso, que renderam homenagens a Pai Gilberto.
O representante dos filhos do homenageado, Wid Marques, destacou que “Pai Gilberto é mais que um pai, um avô de tantos netos, mais que um amigo e irmão. Só sou o que sou hoje porque um dia eu cruzei as portas do Palácio de Xangô Alafim, conduzido por Pai Gilberto. Você é mais que merecedor dessa honraria”.
A técnica em enfermagem Lumara Vilar revelou que o homenageado não faz ideia do quanto já a ajudou. “Ao ver pela TV Câmara que Pai Gilberto estava recebendo homenagens, tive que vir aqui só para lhe dar um abraço e falar da tamanha gratidão que tenho pela transformação que ele proporcionou em várias áreas de minha vida”, comentou, após usar a palavra em tribuna.
Trajetória de Pai Gilberto
Gilberto Cândido da Silva, conhecido como Pai Gilberto, ou Pai Gilberto de Xangô Alafim, nasceu no Bairro de Cruz das Armas, em João Pessoa. Atualmente, o babalorixá comanda o maior templo de candomblé na Paraíba, o Palácio Xangô Alafim, local visitado por adeptos, simpatizantes e estudiosos da cultura afro no Brasil.
Iniciou-se na vida espiritual aos 14 anos, tornando-se um dos pais de santo mais novos de João Pessoa, na mesma época em que o Candomblé era uma prática terminantemente proibida na Paraíba. Desde sua juventude, Gilberto se destacou entre seus pares e conheceu o Babalorixá renomado nacionalmente Mário Miranda, do bairro de Casa Amarela, na Grande Recife (PE), com quem deu os passos iniciais no Candomblé. Pai Gilberto foi precursor da folha Moçambique na Paraíba, Nação a qual até hoje defende com unhas e dentes.
Momento em que Pai Gilberto recebeu de Sérgio da SAC (SD) a Medalha Cidade de João Pessoa.
Aos poucos, Pai Gilberto foi sendo conhecido e respeitado por todos, desde os mais humildes até os grandes nomes da política. Em homenagem a sua luta em prol das religiões de matrizes africanas no Estado, em 1990, Pai Gilberto recebeu das mãos do Vice-rei do Candomblé do Brasil, Eduim Barbosa da Silva, Pai Edú, o título de “Rei do Candomblé da Paraíba”, menção inédita para a religião no Estado.
No mesmo ano, Pai Gilberto criou a maior expressão religiosa depois da cinquentenária “Festa de Iemanjá”, celebrada em 8 de dezembro, na qual acontece a “Caminhada de Iemanjá”, responsável por arrastar multidões nas rua da Capital até o Busto de Tamandaré, no encontro da orla de Cabo Branco e Tambaú. Orgulhando seguidores e simpatizantes das religiões de matrizes africanas, Pai Gilberto recebeu várias homenagens pelo Brasil a fora.