Vereador alerta para o aumento de problemas de saúde mental em crianças
A saúde mental de crianças na atualidade foi tema de pronunciamento do vereador Marcos Henriques (PT) durante pronunciamento na sessão ordinária da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) desta quinta-feira (21). “Uma em cada cinco crianças têm problemas de saúde mental. Houve um aumento de 43% dos diagnósticos de transtornos de défict de atenção, 37% de depressão entre adolescentes e 200% na taxa de suicídio de crianças de 10 a 14 anos”, relatou o parlamentar.
O vereador referiu-se a um artigo do médico psiquiatra espanhol Luis Rojas Marcos. “Os números em si já se revelam preocupantes. Nossos jovens são reféns da degradação das relações sociais, que já pregou o 'ter' como modelo de sucesso, em outro momento o 'ser' como modelo, e hoje impõem aos jovens que, para serem felizes, é preciso 'parecer'. Parecer famoso, parecer estar em sintonia com o senso comum, estar em conformidade com a estética do mercado, parecer possuir um padrão de valores e consumo ditado pela mídia”, exemplificou o vereador.
Para o parlamentar, a conjuntura social de disseminação da intolerância, do preconceito, da liquidez das relações afetivas, e ainda a onda avassaladora de propagação do ódio nas redes sociais, podem explicar alarmantes ocorrências negativas envolvendo crianças e adolescentes, como o suposto abuso sexual ocorrido em uma escola privada da Capital. “As crianças de hoje estão sendo estimuladas e superdimensionadas com objetos materiais, mas são privadas dos conceitos básicos de uma infância saudável”, afirmou.
Marcos Henriques disse que concorda com a análise feita pelo psiquiatra quando fala que é preciso voltar ao básico. Os pais serem emocionalmente disponíveis, a imposição de limites claramente definidos e de responsabilidades às crianças, a nutrição equilibrada, o sono adequado, o jogo interativo, a interação social e o espaço para o tédio, foram citados como necessários para garantir a saúde mental das crianças.
“É preciso que se implemente uma rotina de sono consistente, que se ensine as responsabilidades e independência, e que não haja proteção excessiva. Não podemos basear nossas atenções só nas redes sociais”, afirmou o vereador. Ele ainda ressaltou que os pais não podem se envolver virtualmente com as redes sociais e secundarizar as relações saudáveis com seus filhos.
De acordo com o parlamentar, é preciso discutir quais as medidas e ações políticas elementares à proteção e promoção da educação, questionar como cuidar da saúde mental das crianças para que outras tragédias não aconteçam. Para isso, Marcos Henriques solicitou a instalação da Frente Parlamentar da Criança e do Adolescente. “Juntos, Legislativo Municipal, Vara da Infância e Juventude, Ministério Público e Conselho de Direitos Tutelares, podemos estudar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e apresentar soluções que visem a melhora da qualidade de vida das crianças, para que os números apresentados possam ser estatísticas do passado”, enfatizou.
Apartes
O vereador Thiago Lucena (PMN) destacou o papel das redes sociais, especificamente do YouTube como espaço perigoso de entretenimento das crianças. “Hoje existe o YouTube Kids que, com algorítimos, seleciona vídeos com conteúdos semelhantes em sequência. Mas estão hackeando os algorítimos e colocando inserções sobre suicídio para crianças. Tive uma educação em casa com limites. Crianças sem limites levam ao que aconteceu no colégio Geo. Estudei lá e tinha muitos limites”, relatou o vereador.
Damásio Franca (PP) destacou que está trabalhando em um Projeto de Lei para tratar da obrigatoriedade da presença de psicólogos em escolas privadas. “É lamentável que nossas crianças estejam adoecendo dessa forma”, comentou. O vereador ainda pediu providências sobre as inserções indevidas no YouTube Kids. “Aparece um boneco sinistro dizendo que quer brincar e ensinando a criança a se cortar. Espero que a Polícia Federal possa investigar as pessoas que estão fazendo isso”, cobrou.