Vereador de JP entrou em conflito com padre a favor das ‘venanças’, em 1800
Em 6 de março de 1828, a Câmara mandou o vereador José Gomes Pessoa para a Cidade Baixa, na região das ‘convertidas’ (à igreja católica), local em que havia um conflito gerado por causa do abastecimento de água, onde hoje está a Rua Maciel Pinheiro. A estória está no acervo de 700 folhas, composto por 250 documentos encontrados no arquivo da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), no final de 2017. Os títulos revelam características da população, seu cotidiano e sua relação com a Câmara da Parahyba.
O registro descreve, na voz do vereador José Gomes Pessoa, que o padre Antônio Lourenço havia cercado a área e estava cobrando arrendamento. O parlamentar cita, no documento, que o padre estava agindo maquiavelicamente, ao cercar uma cacimba, cobrando das mulheres conhecidas como ‘venanças’ o acesso à água.
“A Diocese da Paraíba ainda não existia, e a Paróquia de Nossa Senhora das Neves era sufragânea da Diocese de Olinda, em Pernambuco. Havia muita prostituição, entretanto as moças que deixavam o meretrício e se convertiam, numa espécie de regeneração, segundo os princípios católicos da época, eram chamadas de ‘convertidas’. O que se sabe, através da documentação encontrada na CMJP, é que o bispo de Pernambuco mandou construir uma espécie de casa para as ‘convertidas’, que ficava exatamente onde é a rua Maciel Pinheiro”, explicou o historiador Ângelo Emílio Pessoa, ao indicar que as ‘venanças’ poderiam ser um grupo das ‘convertidas’.
Arquitetura ainda revela detalhes do abastecimento de água
A questão do abastecimento de água na cidade permeia boa parte dos documentos achados na CMJP, ao citar chafarizes, cacimbas e bicas cujos resquícios arquitetônicos ainda podem ser vistos pela cidade. A Bica dos Milagres era uma das mais importantes em João Pessoa, localizada no início da Rua da Areia, em sua parte baixa. A Bica de Tambiá era situada no bairro de mesmo nome; a Bica de São Francisco ficava próxima à Casa da Pólvora; e a Bica do Gravatá, no bairro do Varadouro, monumento que foi soterrado. Também havia a Cacimba do Povo, monumento que está preservado, em uma propriedade particular, no Distrito Mecânico. O local é rodeado de vegetação e em frente ao que sobreviveu da estrutura da cacimba há uma capela.
JP era formada pelo Centro Histórico
A divisão do município em Cidade Alta e Cidade Baixa foi algo marcante nas informações encontradas nos documentos históricos que estavam escondidos na CMJP. Tal classificação se refere ao local conhecido hoje como Centro Histórico de João Pessoa, região que formava a capital paraibana naquele momento. Em um dos mapas utilizado na pesquisa do historiador Ângelo Emílio Pessoa, com indicação topográfica do município na década de 1820, nota-se a organização do espaço urbano pessoense surgido às margens do Rio Sanhauá, tendo a Rua do Carro, a famosa Rua da Areia, como via principal e elo de ligação entre as poucas artérias da cidade naquele tempo.
De acordo com as escrituras, havia habitações esparsas no município, fora do que se conhece como o Centro da cidade atualmente, partindo do Rio Sanhauá e chegando às proximidades da Lagoa. Também foram encontrados registros citando Cruz das Armas e a Ponte de Mandacaru, que era o acesso principal para a Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo.
“Os carros eram movidos com tração animal, e a única via que interligava as partes alta e baixa da cidade era a Rua do Carro, conhecida hoje como a Rua da Areia. No período das chuvas, escorria bastante areia das ruas adjacentes para essa via, devido ao declive topográfico do local. Talvez tenha vindo daí o nome utilizado hoje para a artéria”, sinalizou o historiador Ângelo Emílio Pessoa.