Vereadora fala sobre doutrinação e intolerância religiosa em escolas
A vereadora Eliza Virgínia (PP) denunciou que haveria casos de doutrinação e intolerância religiosa nas Escolas Cidadãs Integrais (ECITs) da Capital Pastor João Pereira Gomes Filho e Francisca Ascensão da Cunha (FAC). O assunto fez parte de seu pronunciamento em tribuna, durante a sessão ordinária da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) desta terça-feira (1º). Eliza ainda anunciou que vai solicitar avaliação do corpo docente de uma das unidades, a partir da Frente Parlamentar da Educação da Câmara, e cogitou que servidores poderiam sofrer processo administrativo.
“Eu não sei onde vamos parar com tantas denúncias de pais e estudantes relacionadas às ECITs. A Escola Francisca Ascensão da Cunha (FAC) é a mesma a partir da qual um texto foi divulgado grupo no WhatsApp, pedindo que meninos fossem vestidos de meninas e vice e versa, sob pena do pagamento de R$ 5. É a mesma escola que tem um coordenador pedagógico que estava dançando com um aluno em um vídeo exibido aqui na Câmara”, relatou Eliza.
Na oportunidade, a parlamentar citou que pais e alunos apresentaram denúncia contra uma professora de Português da FAC. No episódio relatado por Eliza Virgínia, a educadora teria realizado uma atividade, pedindo aos estudantes que construíssem frases com foco narrativo na 1ª pessoa, e teria escrito na lousa o seguinte exemplo:
“Sou um estudante preconceituoso, principalmente quanto à orientação sexual. Frequento semanalmente a igreja, tenho nojo de trans, gays e lésbicas, ‘mais’ na sala de aula me mostro amigo deles, por ter medo de processos. Mas não me iludo. Deus e meus pais me ensinaram que tudo isso é safadeza”, leu Eliza Virgínia o texto, contido numa fotografia de smartphone, atribuído à educadora da FAC.
“É inacreditável que uma professora de Português cometa erros, ao escrever errado o advérbio de intensidade ‘mais’ em vez da conjunção adversativa ‘mas’. Outra questão é a doutrinação. O texto é preconceituoso e o pior: tem um grau de intolerância religiosa absurda. Vou denunciá-la e quero retratação. O texto também é problemático, ao dizer que um aluno que frequenta a igreja é intolerante por ser religioso. Isso é uma escola cidadã integral?”, indagou a vereadora.
Segundo a parlamentar, alunos teriam apresentado medo de expôr suas ideias no ambiente escolar e poderiam ter casos de transferência, quando discordam de algumas ideias trabalhadas nas escolas. A vereadora ainda citou que há vários relatos de pais informando que outro professor não dava aula, no ano passado, no entanto, que doutrinaria contra o então candidato à presidência do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL). Ainda foi mencionado que, na ECIC, haveria uma educadora doutrinando contra as escolas militares. Parte de áudio com fala atribuída por Eliza à professora foi reproduzido em plenário.
“Tá virando bagunça. Nossas escolas cidadãs integrais estão virando celeiro de movimentos esquerdistas e LGBTQIA+. Isso tem que acabar. Além de processo administrativo, vou pedir avaliação de todo o corpo docente da FAC, a partir da Frente Parlamentar da Educação, e responsabilizar com processo administrativo atitudes de doutrinação e de intolerância religiosa”, repudiou Eliza Virgínia.
Apartes
Em aparte, Sandra Marrocos (PSB) lembrou ser importante ter cautela ao expôr pessoas e suas imagens. “Peço cuidado ao expôr inverdades. A FAC não obrigou ninguém a ir fantasiado para a aula. O que houve foi uma ação da turma do 3º ano para arrecadar dinheiro para a formatura, inclusive com supervisão da equipe pedagógica. Teve o ‘Dia Gótico’ e o ‘Dia Brega’. Professores foram expostos aqui. Um professor foi exposto aqui, em vídeo, sem autorização dele. Aquela dança não foi da gincana, foi de momento depois. Inclusive, naquele momento tinha casal hétero dançando e você [Eliza] não expôs isso”, observou Sandra, lembrando que dia 30 fará um debate na CMJP sobre essas questões. “Tenho certeza que a senhora [Eliza] estará aqui”, complementou.
Para Carlão (DC), a denúncia de intolerância religiosa seria uma atitude cristofóbica. “Se isso veio de uma professora e foi verdade, tem que ser encaminhado ao Conselho de Educação. Está ferindo de forma direta a educação cristã e a que os pais dão dentro de casa. É preciso que a CMJP debata isso sim. A educação dos filhos de João Pessoa está em jogo”, defendeu.
“A escola para mim é ambiente de acolhimento, solidariedade, de exercício da cidadania, também de política e arte também. Sobretudo, é um centro de difusão de conhecimento. É o berço do saber. Temos que nos preocupar com as pautas da cidadania no ambiente escolar sim, mas acima disso, os conteúdos pedagógicos”, declarou Bruno Farias (PPS), complementando que “há uma foto da lousa, mas nela não vemos a professora escrevendo, nem conhecemos a caligrafia dela. Porém, numa aula de Português, pelo menos o vernáculo tem que ser preservado”.