Vida, saúde e dignidade da população negra foram tema de debate na CMJP
A exclusão, opressão e desigualdades as quais o povo negro ainda é submetido na sociedade foram tema de debate, em sessão especial, na Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP). A solenidade aconteceu durante a tarde desta quarta-feira (11), com o tema “Pós-Abolição – Desconstruindo o 13 de Maio”. O evento foi proposto e presidido pelo vereador Marcos Henriques (PT) e teve a participação de Sandra Marrocos (PSB) e Humberto Pontes (Avante), que secretariou a sessão.
Em homenagem ao orgulho da negritude, os presentes assistiram uma intervenção artística realizada pela atriz Fernanda Ferreira, que abriu os trabalhos com versos do poema “Desenrolar”, de sua autoria, mesclados aos do poema “Linhagem”, de Carlos Assunção.
Performance poética em homenagem à força e resistência da negritude abriu a sessão especial.
Marcos Henriques salientou que, 129 anos após a abolição da escravatura no Brasil, o debate denuncia dificuldades históricas enfrentadas pela população negra, exigindo reflexões. “Há falta de inserção e permanência no mercado de trabalho, de políticas públicas dirigidas para o segmento na Educação, Saúde, Habitação, na garantia da dignidade. Mais da metade da população do País é negra e esta é a parcela que mais é vítima de homicídios, entre diversas outras estatísticas negativas com as quais a negritude sofre até hoje”, denunciou.
Marcos Henriques (PT) - à direita - lembrou que negros e mulheres são maioria no Brasil e têm direito a políticas públicas direcionadas.
O vereador ainda cobrou mais representatividade do povo negro no poder público Municipal. “Não podemos recuar um milímetro de nossa luta, com a afirmação de mais direitos políticos e sociais, liberdade às práticas religiosas, entre outros assuntos. Precisamos de mais organização, luta e resistência”, alertou Marcos Henriques.
Vereadora pede mais investimento contra a doença falciforme
Na oportunidade, Sandra Marrocos citou que o prefeito Luciano Cartaxo (PSD) vetou um projeto da CMJP para a prevenção do Acidente Vascular Cerebral (AVC) em crianças com anemia falciforme, mal com maior incidência sobre a população negra. “Temos que comparecer a esta Casa para reivindicar a derrubada desse veto, quando formos apreciá-lo em plenário, aqui na Câmara”, convocou. Ela ainda frisou que a única médica especializada para tratar a doença falciforme na Capital estaria subaproveitada, realizando cirurgias eletivas no Hospital Santa Isabel.
Sandra Marrocos (PSB) pediu à Prefeitura de JP mais atenção com o tratamento da anemia falciforme, mal de maior incidência sobre a população negra.
De acordo com a coordenadora executiva da Associação Paraibana de Portadores de Anemias Hereditárias (ASPPAH), Fabiana Veloso, o Executivo teria barrado a aquisição para o Município de um doppler transcraniano, equipamento que auxiliaria no tratamento de crianças com a doença falciforme. “Isso evitaria sequelas a crianças atingidas por esse mal. Batalhamos por esse equipamento há cinco anos e percebemos que o veto não foi à obtenção do aparelho apenas, mas sim um veto à vida de crianças, sem nenhuma sensibilidade”, lamentou.
Capital necessita de Conselho e Coordenadoria para os negros
Por sua vez, a representante do Conselho Nacional de Políticas de Igualdade Racial (CNPIR), Mãe Tuca, lembrou que, em 2010, a Casa de Cultura IAO solicitou ao Governo Municipal uma Coordenadoria de Igualdade Racial para João Pessoa. “Somos um dos Municípios que não está incluso no Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), e um dos critérios exigidos é que a cidade tenha uma Coordenadoria e um Conselho. Entregamos uma carta para a assessoria do prefeito e ficamos sem resposta. Peço, em nome de meu povo, que a CMJP interceda, que nos represente”, solicitou a líder, se dirigindo a Marcos Henriques.
Mãe Tuca cobrou a criação de entidades Municipais em prol de políticas públicas para os negros.
Mãe Tuca ainda repudiou a existência de festivais de capoeira gospel. “A capoeira é patrimônio, assim como é o acarajé. As pessoas devem procurar saber o que são esses símbolos da cultura negra. A capoeira é do povo preto. Não posso admitir uma capoeira que não tenha atabaque e que adquira novas letras. A capoeira não é gospel, assim como o acarajé não é o 'bolinho de Jesus'”, comentou.
Militantes fazem apelo à CMJP pela garantia da vida da população negra
Em uma fala também de apelo à vida da população negra e por mais políticas públicas pro segmento, a representante da Bamidelê Organização de Mulheres Negras na Paraíba, Vânia Fonseca, divulgou a “carta produzida pelas mulheres negras brasileiras”, de novembro de 2015. O material é um pacto pelo fim do racismo, violência e a favor do bem viver entre todos na sociedade.
Socorro Pimentel pediu que a CMJP 'enegreça' suas pautas em função das causas negras e do combate ao racismo.
“Precisamos de visibilidade social e política na CMJP, enegrecendo as pautas do Legislativo e angariando o apoio dos brancos sensíveis as nossas causas. Necessitamos redimensionar o que é o negro e a negra na sociedade, reafirmando que nós existimos”, reforçou a secretária de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores na Paraíba, Socorro Pimentel.
O evento ainda teve a participação de vários nomes que atuam nas causas dos Direitos Humanos, que militam no combate ao racismo, na promoção de políticas de igualdade social e de destaque nos estudos afro-brasileiros.